Conversas na mesa do jantar.

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Todas as noites, em incontáveis casas onde moram adolescentes, uma mesma pergunta é feita na mesa do jantar: “- E aí, filho(a)?! Como foi a Escola?”. E me arrisco aqui a adivinhar as respostas: um inexpressivo “- Tudo bem”. Um monossilábico “- OK”. Ou um enfático “- Chata!”. Mais uma garfada é saboreada, mais uma tentativa é disparada: “-E o que você aprendeu hoje?”.
Me arrisco novamente: “-Nada”. “-Não lembro”. Ou “-Sei lá!”.

A tentativa de diálogo é persistente: “- O que aconteceu de legal por lá? Me conta alguma coisa!”. Volte uma linha e receba a mesma resposta: “-Nada”, “-Não lembro” ou “-Sei lá”.

Se você conhece essa cena, não se desespere! Seu filho ou filha não tem problemas de memória, não está desperdiçando seu dinheiro, nem tampouco está mentindo... (às vezes, pode estar... atente às reações: se desvia o olhar, se os olhos enchem de lágrimas, se ruboriza ou muda de assunto).

Ter acesso à vida dos filhos adolescentes é verdadeiramente desafiador. Vida escolar, então, mais ainda, sobretudo porque, nessa faixa etária, a Escola se torna primordialmente um ambiente social para o adolescente, o lugar dos encontros, dos desencontros, das paixões, das desilusões, das transgressões. Sendo assim, quando se pergunta como foi a Escola, assim, de maneira abstrata, o adolescente lembra de todas as emoções que viveu, boas e ruins, mas possivelmente nada do que sentiu ele quer partilhar com os pais. Ou então lembra-se de tudo o que deu errado, do que o entristeceu, que roubou-lhe a atenção, e consequentemente ele não tem ideia mais do que aprendeu.... se é que aprendeu! Mais difícil ainda vai ser saber o que aconteceu na Escola se justamente naquele dia retribuiu a um olhar apaixonado, colou na prova de geografia ou levou um cartão vermelho no futebol... 

Mas e aí? O que fazemos? Deixamos de perguntar? Não precisamos mais nos envolver? Deixamos os adolescentes nos próprios silêncios ou monossílabos? De jeito nenhum... A adolescência é a fase da vida dos filhos que mais demanda aos pais a oferta de suporte emocional. Quanto maior a recusa, maior o sinal da necessidade. 

E como fazer, se as respostas que recebemos às nossas perguntas são evasivas e nada respondem? 

Nesse caso, precisaremos mudar as perguntas! 

Para ter acesso à rotina e à vida dos nossos filhos, precisamos demonstrar que estamos em contato com o que eles têm vivido. Precisamos dirigir-lhes perguntas diretas, objetivas, conectadas com o cotidiano para, assim, conseguirmos colher informações acerca das vivências, experiências e emoções. Quer no campo acadêmico, quer nos campos social ou atitudinal.

  Assim, para acessar a vida escolar, por exemplo, use as informações de que você dispõe para começar os diálogos. Informações são chaves que abrem portas! “- Você está lendo um livro do Mia Couto para a Escola?! Sabia que eu adorei a Terra Sonâmbula. Mas não é essa a obra que vocês estão lendo, não, né? É O Mapeador de Ausências, certo? Esse eu não li... me conta um pouco do livro!”. “ – Soube que houve uma apresentação de skate na abertura da Olimpíada da Escola. Legal, né?! Olimpíadas na Escola é sempre divertido! Você estará na equipe de futebol? Como ficou aquela história da briga que teve no jogo da semana passada? Se entendeu com o time, afinal?”. “- Próxima semana começam as provas, certo? Pensei que poderíamos ir à praia no fim de semana, mas talvez você precise de tempo para estudar. Você consegue se organizar para que domingo possamos ir à praia? Se você precisar, posso te ajudar com a matéria de Biologia, pois sempre gostei de estudar genética e sei que na prova anterior você teve dificuldade...”

Mas como ter acesso a essas chaves que abrirão as portas?

Uma fonte preciosa de informações pode ser o aplicativo de comunicação da Escola, através do qual as famílias são alimentadas com dados da rotina. No Fórum Cultural, uma escola particular de Niterói, por exemplo, para além dessa comunicação rotineira, como horários de chegada e saída do aluno da Escola, datas de provas e conteúdos a serem aferidos, semanalmente publicamos uma agenda na qual os assuntos referentes aos aspectos pedagógicos da semana seguinte são apresentados.

Nesta, projetos são descritos, convites são realizados, livros propostos à leitura são compartilhados, pequenos relatos são registrados, fotos são compartilhadas. Todas essas informações podem (e devem) ser utilizadas como meios para o acompanhamento da família acerca da rotina escolar dos filhos, mas também como dispositivos para aproximação para com eles. Para que a família possa olhar a Escola pelo buraco da fechadura, desvendando um pouco do que a criança ou adolescente vive na Escola e, assim, encontrar meios de acessá-los. Quais as experiências estão sendo vividas, quais os desafios estão sendo apresentados, de modo a que se possa, em casa, aprofundar, retomar, contribuir, qualificar o vivido, mas também dele se apropriar e acompanhar.

Já para os pequenos da Educação Infantil e Anos Iniciais, a rotina é descrita a partir das atividades realizadas e sempre sustentada pela intencionalidade pedagógica de cada escolha. Assim, ao saber o que a criança fez na Escola, como foi estimulada, quais competências desenvolveu, a família pode dar continuidade ao trabalho em casa, se inspirar em estratégias, retomar a experiência e se deliciar com as conquistas dos pequenos!

Os aplicativos de comunicação escolar, como tudo relacionado à Escola, devem ser ferramentas pedagógicas! Claro que eles também resolvem a comunicação ordinária mais tempestiva, orientação para dúvidas pontuais, agendamentos de reunião, ... Mas mais do que isso, o app pode ser apropriado como um potente dispositivo de registro qualitativo, individualizado e personalizado, garantindo insumos à família para o acompanhamento ainda mais próximo da vida dos filhos. 

Comunicação é a maior competência do século XXI! Na Escola, acesso, conteúdo, quantidade, forma, tempo, meio, todos esses aspectos devem ser cuidados para que a comunicação se estabeleça de maneira potente e suficiente, a serviço do desenvolvimento dos alunos. Demorar para compartilhar informações, esperar a reunião individual ou o relatório de fim de etapa desperdiça importantes pistas de situações que demandam nossa intervenção. Desperdiça oportunidades de aproximação dos filhos. Desperdiça acessos ao mundo deles!

A Escola pode ajudar com as chaves que abrem as portas! Pegue-as, antes de cada jantar! 

Esse conteúdo é de autoria de Adriana Hassin, Diretora Executiva da Escola Fórum Cultural.