O Ensino Híbrido e as novas competências de estudo.

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A crescente implantação do ensino híbrido na Educação Básica, acelerada e potencializada nesses tempos de pandemia, vem transformando velhas metas do processo educativo em imperativos inadiáveis.

O ensino híbrido, assim denominado justamente por combinar processos de aprendizagem ora mediados pela atuação do professor, ora exigentes de protagonismo individual discente, ressignifica o conjunto de práticas pedagógicas desse novo tempo, num fluxo inexorável de transformação de métodos, estratégias, planejamentos, aulas, avaliações, aprendizagens e, fundamentalmente, sujeitos. Quer sejam estes sujeitos os professores, quer sejam os alunos!

A coexistência do presencial com o remoto, do síncrono com o assíncrono, do individual com o colaborativo, é uma realidade extraordinária de complementaridade de tempos, espaços, processos e intencionalidades indispensáveis à Educação desses novos tempos. Ao estudante, a autonomia para aprender é pressuposto da contemporaneidade e, mais significativamente, competência estruturante para este século XXI. E as metodologias híbridas têm evidenciado alguns desafios aos currículos e práticas até então operados nas escolas, impondo uma abertura ao novo em detrimento de velhas rotinas de estudo! 

Há até bem pouco tempo, quaisquer guias e orientações acerca da construção de uma rotina de estudos em casa que consultássemos ofertariam sugestões importantes, sobretudo no que concerne à aspectos operacionais do processo, tais como

 

  • Organização de espaço físico apropriado, confortável, silencioso, que favoreça a concentração e a produção.

  • Preparação prévia de materiais e insumos necessários como livros, papéis, post-its, marcadores, lápis, canetas e demais itens de papelaria, água, computador ligado, conforto térmico.

  • Utilização de equipamentos adequados e de qualidade, sempre de acordo com a necessidade e compatíveis com a saúde física do estudante (altura da cadeira, iluminação, volume do som em fones de ouvido, tempo de exposição às telas).

  • Planejamento e estabelecimento de metas, a partir de uma rotina planejada e um cronograma de atividades definido, avaliando o processo e redirecionando cursos de ação.

  • Divisão do tempo de imersão destinado para cada atividade, mantendo sempre o registro das obrigações e cumprindo momentos de pausa para descanso, alimentação e lazer.

Tais orientações eram suficientes para a criação de ambiências propícias ao estudo e mobilizavam um conjunto relativamente restrito de habilidades, sobretudo ligadas às capacidades de planejamento e execução, porque a estrada do conhecimento era toda pavimentada pelo professor; o aluno só precisava caminhar!

Com as experiências híbridas do Fórum Cultural, uma Escola particular em Niterói, a construção do conhecimento passou a exigir autonomia como condição para desenvolvimento de saberes. Ao aluno, para aprender em qualquer lugar e a qualquer tempo, são oferecidas metas de objetivos a serem atingidos e apresentam-se mapas com possibilidades de caminhos; mas a trilha a ser seguida, é o estudante quem construirá! Professores são bússolas que apontam as direções; o aluno, como um peregrino, empreende a jornada! E embora aquelas dicas ainda sejam pertinentes, muito mais do que espaços e materiais organizados ou pausas para merecidos descansos, outros imperativos se colocam como necessários para o caminhar!

Autonomia é competência e se constrói no gerúndio, na medida em que se aprende a fazer fazendo! Mas como fazer? Quais (novas) competências estão sendo potencializadas pelas modalidades híbridas? Quais habilidades os currículos escolares precisam desenvolver e fomentar? Quais são as habilidades que esse novo jeito de estudar tem mobilizado?

Vídeo-aulas, atividades assíncronas, roteiros de estudo e tantas outras atividades de natureza híbrida pressupõem períodos imersivos autônomos do estudante em leituras interpretativas, construções de hipóteses autorais, investigações individuais de teses que resultem em inferências, resoluções criativas de problemas. Some-se a essas habilidades a necessidade de desenvolvimento de outras competências, tais como gestão do tempo, construção de rotina, seleção de fontes informações, concentração e foco, objetividade, planejamento, determinação, resiliência, gestão da ansiedade e da frustração.

Para tanto, alguns macrocampos nos parecem significativos de serem observados como competências demandadas pelas rotinas híbridas e que precisam ser consideradas, por estudantes, professores e currículos, para processos de construção de autonomia mais sólidos e consoantes com os paradigmas do hibridismo: 

 

  • Abertura ao novo e às mudanças:

O hibridismo lança mão de estratégias pedagógicas que, não raro, rompem com tradicionalismos metodológicos e desafiam estudantes a enfrentar situações de aprendizagem sem tanto direcionamento ou explanação prévia do professor. As ações orientadas à aprendizagem, nessa nova modalidade, exigem flexibilidade, criatividade e tolerância, além de capacidades para resolução de problemas e experiências de liberdade na busca de alternativas para vencer os desafios acadêmicos propostos. 

 

  • Compromisso com a rotina autônoma:

O desenvolvimento de sensos de compromisso e responsabilidade para com a própria jornada de aprendizagem pelo estudante é pilar da conquista da autonomia. Habilidades sociais básicas como autodisciplina, responsabilidade, gerenciamento de tempo são mobilizadas, mas desafios possivelmente inéditos como senso de potência pelo estudante para a aprendizagem individualizada é elemento significativo para autoestima, protagonismo e epistemofilia, aspectos estes condicionantes do lifelong learning.

 

  • Compartilhamento e trabalho em equipe:

O estabelecimento de comunidades de aprendizagem, através de planejamentos compartilhados, ofertas e pedidos de ajuda entre os pares, estratégias baseadas em aprendizagem por times (Team Based Learning) e projetos (Project Based Learning) possibilitam a ampliação das competências sociorelacionais, estimulam o protagonismo, habilidades de convivência e interação com as diferenças. Ademais, pesquisas comprovam significativo aumento no engajamento dos estudantes em atividades compartilhadas e que agregam, nos objetivos acadêmicos, possibilidades de experiências sociais e afetivas.

 

  • Desenvolvimento da experiência estética: 

A mediação tecnológica potencializada nas atividades híbridas oportunizam ampliação do repertório estéticos dos estudantes, dadas as viabilidades técnicas de consumo das artes plásticas, visitas virtuais, imersão em museus e patrimônios históricos, artísticos, materiais e imateriais, audiência à concertos e apresentações musicais e dança, teatro e produções cinematográficas. Possibilitam, também, o estímulo à convivência planejada com as artes, literatura e práticas esportivas nos momentos de pausa e lazer, potencializando a experiência sensível e as dimensões ética, estética e política do processo educativo.

 

  • Autoconhecimento, autocuidado, superação e tolerância à frustração:

Retificando o conjunto de competências gerais básicas da BNCC, os desafios da autonomia também mobilizam a dimensão do ser, sobretudo na medida em que exige e convoca o estudante à autossuperação, resiliência e equilíbrio potencializador do senso de realização. Desafios que se transformam em conquista ou frustração, em novas metas ou revisão de processos, que demandam autoavaliação e autocrítica, aguçados pela experiência do isolamento, da solidão e da necessidade de automotivação. Exigem dedicação para dar sempre o melhor de si, mas aceitando que nem todos os dias serão bons!

Esse conteúdo é de autoria de Adriana Hassin, Diretora Executiva do Fórum Cultural, uma Escola particular em Niterói.