Para quem forma quem transforma
Sabia que 20 de março é o Dia do Pedagogo?
Pedagogia é palavra de origem grega que justapõe paidós, criança, e agodé, condução. Assim, pedagogo é aquele que conduz a criança. Mas conduz para onde?
Antigamente, a atuação da professora pedagoga era tradicionalmente compreendida como aquela que, envolvida em processos alfabetizatórios, introdução à matemática e muitas atividades artísticas, era a responsável pela formação acadêmica. A ela competia ensinar as letras, os números, capitais e cantigas de roda… Atualmente, contudo, o significado da atuação pedagógica ganhou novas camadas, muito mais aderentes à complexidade do mundo contemporâneo, fato expresso, inclusive, na alteração de nomenclatura das Faculdades de Pedagogia para Faculdades de Educação que vimos observando nas últimas décadas.
Considerar a ação pedagógica como Educação, assim com E maiúsculo, é considerar muito mais do que mediação de conhecimentos acadêmicos estruturados; é estabelecê-la como estrutural e visceralmente comprometida com a bonita premissa da Educação Brasileira de garantia dos direitos de aprendizagem e desenvolvimento da criança.
Na perspectiva da Educação Integral apregoada pela Base Nacional Comum Curricular, aprendizagem e desenvolvimento são processos contínuos no que se referem à mudanças que se dão ao longo da vida do estudante e, uma vez estabelecidos como direitos, devem garantir uma formação humana imprescindível à construção de uma sociedade mais justa, na qual todas as formas de discriminação, preconceito ou exclusão sejam combatidas. Mas quais são esses direitos de aprendizagem e desenvolvimento?
A BNCC, em conformidade com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, estabelece seis direitos fundamentais que devem ser garantidos às crianças como estruturantes no processo de escolarização. A saber: 1) o direito de conviver democraticamente com outras crianças e adultos, se relacionando com e partilhando distintas situações; 2) o direito de brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes tempos e espaços, com diferentes parceiros; 3) o direito de participar ativamente tanto do planejamento da gestão da escola, como da realização de atividades cotidianas; 4) o direito de explorar movimentos, gestos, sons, palavras, emoções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza, espaços e tempos; 5) o direito de expressar, como sujeito criativo e sensível, com diferentes linguagens, sensações, necessidades, opiniões, sentimentos e desejos; 6) o direito de conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural, construindo uma imagem positiva de si e de seus grupos de pertencimento.
De modo a estabelecer uma interlocução entre os direitos das crianças citados e a construção de diferentes aprendizados que lhes garantam acesso a conhecimentos sistematizados, a organização curricular da Educação Infantil deve estruturar-se em campos de experiências a partir dos quais emerjam significações, observações, questionamentos, investigações, posicionamentos e ações mobilizados por interações e brincadeiras plenas de intencionalidade.
Assim, pedagogos e pedagogas, hoje, são sujeitos mais do que nunca essenciais para o desenvolvimento das crianças! A eles cumpre promover, incentivar e orientar propostas e atividades cujas intencionalidades, balizadas pelos direitos de aprendizagem, oportunizem a conquista de habilidades e competências baseadas na experiência. O estudante é o protagonista dos processos, enquanto cumpre ao professor a organização das relações do sujeito consigo mesmo, com o grupo, com o meio e com os objetos de conhecimento. O professor, assim, migra do lugar da apresentação de conhecimentos para o lugar do fomentador de desafios.
Neste sentido, professoras e professores de Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental operam currículos que em muito ultrapassam os saberes estruturados. Desde a dimensão do cuidado e autocuidado para com o estudante, até a especificidade de determinados conteúdos acadêmicos, tudo passa pela mediação pedagógica! Desenvolvimento motor, organização espaço-temporal, trabalho em equipe, desafios atencionais, gestão dos momentos de escuta e de fala, argumentação, aceitação e renúncia, consciência alimentar, senso estético e político, formação ética, para além de toda a gramática, a tabuada, os biomas, as operações matemáticas, o corpo humano, são conteúdos a serem oferecidos a partir da experiência protagonista e crítica dos estudantes.
Emoções, sensações e reações também são componentes essenciais desse currículo! A Base Nacional Comum Curricular, ao reconhecer o componente socioemocional como competência geral essencial à formação dos indivíduos na escola, acrescenta essa outra importante camada à atuação dos pedagogos: a formação sócio-relacional dos estudantes.
É na escola, na medida em que meninos e meninas se diluem entre os pares, que as aprendizagens decorrentes do convívio coletivo se estabelecem. Conflitos, negociações, frustrações e superações são experiências que, mais do que acontecerem na escola, precisam ser por esta promovidas! Cumpre ao espaço social da escola expor e orientar meninos e meninas às nuances do convívio social, da existência compartilhada, da alteridade, da tolerância e da aceitação. Cumpre, também, a exposição aos limites, renúncias e frustrações capazes de edificar a autorregulação dos sujeitos.
Então, o pedagogo é aquele que conduz a criança para onde?
Frente a todas essas camadas da atuação pedagógica, o pedagogo se faz, assim, maestro do processo de desenvolvimento das crianças, para além das aprendizagens formais, sobretudo e sobremaneira dos saberes que fazem de nós seres sociais, gregários, e políticos. Também daqueles que nos fazem éticos, estéticos e críticos Conduzem os estudantes pelas veredas da formação integral, instrumentalizando-os à construção de uma sociedade mais justa, equânime, inclusiva e plural. Uma sociedade que promova oportunidades e garanta direitos a todos e todas. Que considere os indivíduos nas especificidades das respectivas humanidades para que, juntos e em sociedade, promovam uma cultura de paz.
A todos os pedagogos e pedagogas que nos formam para que sejamos aqueles que transformam, nossa homenagem!
Adriana Hassin
Diretora do Fórum Cultural